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Farinhada resiste à industrialização em Pio IX e conserva processo artesanal da goma e farinha; veja fotos

Por: Roberto - 20/07/2019

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Quem passar pela zona rural de Pio IX nessa época do ano vai sentir o cheiro da mandioca, pois é comum durante o mês de julho as farinhadas ou as chamadas “desmanchas”. Apesar do processo de industrialização e a utilização de maquinários mais avançados, a maioria das tradicionais casas de farinha ou aviamentos nas serras de Pio IX conservam o processo artesanal da produção da goma e da farinha.

Portal é Notícias visitou um aviamento na zona rural de Pio IX e o que se percebe é que a farinhada resiste ao tempo passando de geração em geração.

Goma ou tapioca, o ouro branco do sertão – Foto: Jeremias Carvalho

Processamento da farinhada

Nossa redação participou de uma farinhada do casal “Luis de Lourdes” e “Dona Leuda” no Aviamento de “Seu Juarez” na localidade Serra da Baraúna, zona rural de Pio IX, para entender melhor o processo de transformação da mandioca em goma e farinha.

De início os homens vão até à roça e através do trabalho braçal com auxílio de ferramentas arcaicas como cavador e chibanca arrancam a mandioca que se encontram cravadas no subsolo. Logo em seguida as raízes são trazidas na carroceria de uma D-20 e esparramadas no chão do aviamento.

Mandioca sendo trazida para o aviamento – Foto: Jeremias Carvalho

Dali em diante começa o trabalho de raspagem da mandioca onde um grupo composto em sua maioria por mulheres utilizam de uma pequena faca amolada chamada trinchete com muita destreza para descascar a mandioca sobre o cascalho que se acumula debaixo do teto do aviamento.

O trabalho de raspagem pode durar horas e são comuns os trabalhadores se entreterem contando histórias animadas entre si alternando fartos cafés da manhã, lanches, almoços ou jantares.

Mulheres raspam a mandioca no aviamento –  Foto: Jeremias Carvalho

Transformação da mandioca em goma e farinha

Após a raspagem da mandioca, inicia o trabalho de transformação onde ela passa por uma forrageira artesanal até virar uma massa. Logo em seguida começa o trabalho de lavagem do produto. Os lavadores da massa de mandioca se debruçam sobre as redes de náilon para extrair dela a goma e a farinha, utilizadas para o consumo familiar ou para a comercialização.

Depois de separada a goma em forma líquida pelos lavadores a massa é colocada numa prensa antiga para ser imprensada e em seguida é levada ao forno a lenha por algumas horas para ser transformada em farinha.

Separação da goma da massa da mandioca – Foto: Jeremias Carvalho

Segundo explicou o lavador Francisco Sá, a goma na forma líquida é colocada para “descansar” em gamelas e cisternas até assentar no fundo dos recipientes.

“Quando a goma fica sólida no fundo, é separada do líquido chamado mão poeira, em seguida ela é lavada com água, utilizando enxadas para dissolver. No dia seguinte, retira a água, depois coloca um pano com farinha para secar e retira ela e põe para secar no sol”, disse o lavador.

O líquido da goma chamado de “mão poeira” segundo informou Francisco Sá é altamente tóxico e não pode ser consumido por humanos e muitos menos por animais e em virtude disso ele é descartado.

Vídeo separação da goma da massa:

Envolvimento da família na farinhada

Quem mora no nordeste sabe que as farinhadas são realizadas desde a antiguidade e a prática se desenvolve com envolvimento da família, de pessoas amigas ou conhecidas. Na desmancha do casal Luis de Lourdes e Dona Leuda não foi diferente, no aviamento de Seu Juarez trabalharam aproximadamente de 15 a 20 pessoas, todas com algum grau de parentesco.

Além do fator econômico que gera emprego e renda para a sobrevivência, a farinhada é vista como uma oportunidade de estreitar os laços de parentesco e amizade entre pessoas próximas e amigas.

Segundo Seu Luis de Lourdes, a atividade é muito trabalhosa, e só enfrenta que tem coragem. “É muito trabalhoso, mas temos o costume de todos os anos fazer nossa desmancha. Graças a Deus nossa família é grande e a gente convida alguns amigos e por enquanto temos conseguido conduzir os trabalhos”, disse o agricultor.

Massa de mandioca sendo prensada – Foto: Jeremias Carvalho

Benefícios da farinhada

Segundo Seu Juarez, dono do aviamento na Serra na Baraúna, a prática da farinhada é muito produtiva. ”Essa é uma atividade produtiva e dela são extraídas vários produtos, temos a tapioca (goma), temos a farinha que além de alimentar nossa família podemos comercializar e outros produtos como o cascalho e a crueira que são utilizados como ração para os animais”, explicou.

Os serviços de farinhada acaba também gerando um pouco de renda como é o caso de forneiros ou lavadores de massa. “Semana passada eu trabalhei alguns dias no Sítio Guaribas torrando farinha por lá. Hoje já estou aqui e tenho ainda agendado outros serviços por aí”, disse Neguinho, conhecido como exímio forneiro pelas serras de Pio IX.

De acordo com Seu Juarez, a goma extraída da mandioca nos aviamentos de Pio IX tem sido comercializada por R$ 200 e até R$ 250 o saco, o saco de farinha o preço gira entorno de R$ 50 a R$ 100.

Veja mais fotos:  

Por Jeremias Carvalho / Portal É Notícias

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